A comissão de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff é, na prática, um tribunal de exceção, tal qual o tribunal da inquisição. Ali a fogueira era o destino certo dos que não cumpriam os mandamentos da então absoluta e poderosa “santa madre igreja católica”. Aqui, no tribunal de exceção do Senado, a cassação é o destino de quem ousa fazer políticas públicas para melhorar a vida do povo e fugir, mesmo que parcialmente, do manual de concentração de renda da classe dominante.
Mas há uma diferença a favor do tribunal da inquisição. Ali os inquisidores tinham o cuidado de manter certar aparências. Asseguravam que o eventual acusador não poderia integrar o tribunal que prolataria a sentença. No tribunal de exceção do Senado esse “zelo” preliminar foi solenemente ignorado.
O acusador formal é o PSDB, que pagou R$ 45.000 (quarenta e cinco mil reais) para uma escriba elaborar a “peça acusatória”. Advogados e filiados do PSDB protocolaram a peça mambembe e acertaram com Eduardo Cunha o momento para recepcionar a peça e deflagrar o golpe. E o relator é o Senador Anastasia (PSDB, MG). Farsa maior não há!
Quando Galileu Galilei foi levado ao tribunal de inquisição para ser condenado e queimado vivo por ter sustentado que o sol e não a terra era o centro do universo, se poderia levantar em defesa dos inquisidores que o conhecimento da ciência de então não permitia, com segurança, demonstrar a veracidade da teoria de Galileu. O sábio acabou se retratando. Afirmou que sua teoria era apenas uma suposição e escapou da fogueira.
Novamente em favor do tribunal de inquisição conta o fato de que, ali, se o “réu” se arrependesse, ele seria absolvido. Aqui, no tribunal de exceção do Senado, só interessa aos golpistas a cassação imediata e rápida da presidenta Dilma Rousseff para que eles possam assumir o governo sem votos e completarem o desmonte do país, iniciado no período de FHC (PSDB).
Pouco importa que as testemunhas digam ao contrário e demonstrem que não houve crime de responsabilidade, como acaba de demonstrar a perícia do próprio Senado. Se provas cabais são acostadas aos autos eles relativizam ou simplesmente tentam ignorar, como fizeram com o pedido de inclusão das gravações do delator Sergio Machado, que revelou bastidores da real motivação dos envolvidos na conspiração golpista.
Quando a minoritária, mas brava e aguerrida bancada de Senadoras e Senadores contra o golpe, demonstra, com dados e argumentos, em todas as sessões, que tudo não passa de um golpe, eles já nem mais reagem. Apenas esperam, cada vez mais ansiosos, pelo cumprimento formal dos prazos, que tentam encurtar ao máximo, para anunciaram o resultado que eles acertaram entre si. E, obviamente, recorrem aos mais torpes expedientes para tentar desviar a atenção da farsa e do desmonte do país que já iniciam.
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